segunda-feira, 3 de outubro de 2011

FADAS NO DIVÃ de Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso

Comecei finalmente a colocar em dia minha literatura atrasada e esbarrei nesse livro que faz meses que comprei e ainda não tinha tido tempo de ler. Trata-se de uma análise psicológica feita das histórias infantis. Trago aqui transcrito um trecho inicial. Para quem quer se aprofundar no tema Contos de Fadas, um livro muito interessante.

Certo dia, a mãe de uma menina mandou que ela levasse um pouco de pão e leite para sua avó. Quando caminhava pela floresta, um lobo aproximou-se e perguntou-lhe onde ia.
- Para a casa da vovó.
- Por qual caminho, o dos alfinetes ou o das agulhas?
- O das agulhas.
O lobo seguiu pelo caminho dos alfinetes e chegou primeiro à casa. Matou a avó, despejou seu sangue numa garrafa, cortou a carne em fatias e colocou numa travessa. Depois, vestiu sua roupa de dormir e deitou-se na cama, à espera.
Pa, pam.
- Entre, querida.
- Olá, vovó. Trouze um pouco de pão e leite.
- Sirva-se também, querida. Há carne e vinho na copa. A menina comeu o que foi oferecido, enquanto um gatinho dizia: "menina perdida! Comer a carne e beber o sangue da avó!"
Então, o lobo disse:
- Tire a roupa e deite-se comigo.
- Onde ponho meu avental?
- Jogue no fogo. Você não vai precisar mais dele.
Para cada peça de roupa (...) a menina fazia a mesma pergunta, e a cada vez o lobo respondia:
- Jogue no fogo...(etc.).
Quando a menina se deitou na cama, disse:
- Ah, vovó! Como você é peluda!
- É para me manter mais aquecida, querida.
- Ah, vovó! Que ombros largos você tem!
(etc., etc., nos moldes do diálogo conhecido, até o clássico desfecho):
- Ah, vovó! Que dentes grandes você tem!
É para comer melhor você, querida.
E ele a devorou.

Para nosso espanto, este conto recolhido na França, por Charles Perrault, da tradição oral camponesa do século XVII, termina bruscamente aqui. O corajoso caçador, que viria matar o lobo e resgatar com vida a pobre Chapeuzinho Vermelho e sua querida avó, não existe nesta versão. Não existe um final feliz, nem uma moral da história. O seu objetivo original, afirma Robert Darnton, não era o de prevenir as crianças a respeito dos perigos da desobediência aos pais (na versão moderna do conto, Chapeuzinho escolhe o caminho oposto ao recomendado por sua mãe), de modo a protegê-la do contato precoce com a sexualidade adulta. As narrativas populares européias, matrizes dos modernos contos infantis que, a partir das adaptações feitas no século XIX, passaram a integrar a rica mitologia universal, não apresentavam a riqueza simbólica que faz dos contos de fadas um depositário de significações inconscientes aberto à interpretação psicanalítica. Na verdade, eles nem eram destinados especificamente às crianças, nem parecem aliados a uma pedagogia iluminista. "Longe de ocultar sua mensagem com símbolos, os contadores de histórias do século XVIII, na França, retratavam um mundo de brutalidade nua e crua", escreve Robert Darnton.

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